Guia Politicamente Incorreto da Historia do Brasil

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  • Editora: LeYa
  • Autor: Leandro Narloch
  • Páginas: 320
  • Avaliação: 
Existe um esquema tão repetido para contar a história do Brasil, que basta misturar chavões, mudar datas ou nomes, e pronto. Você já pode passar em qualquer prova de história na escola. Nesse livro, o jornalista Leandro Narloch prefere adotar uma postura diferente – que vai além dos mocinhos e bandidos tão conhecidos. Ele mesmo, logo no prefácio, avisa ao leitor: “Este livro não quer ser um falso estudo acadêmico, como o daqueles estudiosos, e sim uma provocação. Uma pequena coletânea de pesquisas históricas sérias, irritantes e desagradáveis, escolhidas com o objetivo de enfurecer um bom número de cidadãos.” É verdade: esse guia enfurecerá muitas pessoas. Porém, é também verdade que a história, assim, fica muito mais interessante e saborosa para quem a lê.

Os mitos históricos acabam exercendo mais influência que os fatos em si, e resgatar a verdade – ou pelo menos lançar questionamentos sobre algumas “verdades” – passa a ser fundamental para uma compreensão mais acurada dos eventos importantes, que acabam manipulados pela ditadura do “politicamente correto”.

Este interessante livro - onde me hipnotizou completamente desde a belissima capa até a última página - se propõe a desmistificar famosas figuras de nossa história. Não dá para não falar de um livro que desde seu lançamento causou uma certa polêmica por apresentar fatos que por muitas vezes desmentem a História dita "oficial" do Brasil.
Zumbi era escravocrata

Zumbi vinha de uma linhagem de reis africanos e reinava no seu quilombo de acordo com a tradição africana, escravizando quem estava disponível. Se um escravo fugido vinha pedir refúgio, ele era recebido como cidadão da comunidade. Mas quando Zumbi saía com seus soldados para saquear povoados da região, os negros capturados viravam escravos.

Na verdade o autor, o jornalista Leandro Narloch, não escreveu nada muito diferente do que qualquer aluno que cursou nos últimos anos - ou está cursando - uma boa cadeira de História não tenha ouvido ou até mesmo discutido em sala de aula com os colegas e professores.

A intenção de Narloch foi reunir diversas pesquisas revisionistas e apresenta-las em um texto de fácil leitura e que realmente te prende pelas páginas. Estes trabalhos revisionistas começaram a pipocar nos meios acadêmicos em meados da década de 1990, e nada mais são do que pesquisas mais aprofundadas sobre os mais variados temas, desde o relacionamento dos nativos com os europeus lá no século XVI até as discussões sobre o que era samba e o que era jazz ou marcha no início do século XX. E, é óbvio, dentro desta discussão tentar descobrir quem realmente inventou o samba.

E todos os contras da História "oficial" apresentados no livro vem acompanhados de alguma pesquisa feita por algum historiador. Não há invenção por parte do Narloch, ele apenas organizou e expos os fatos.

Mas por que as polêmicas? O livro acaba jogando luzes sobre fatos um tanto quanto obscuros ou que receberam tratamento acadêmico tão padronizado nas escolas Brasil afora que até hoje em dia são tratados como verdades inquestionáveis.

Óbvio que ao ler que muitos dos nativos brasileiros preferiam viver o mais próximo possível dos portugueses ao invés de se esconderem na mata, ou que Machado de Assis era um crítico ferrenho e um censor excessivamente chato ou que José de Alencar teria escrito uma carta ao Imperador sendo contrário ao fim da escravidão ou então que Santos Dumont realmente não inventou o avião choca quem está acostumado a ouvir a História "oficial", mas você não deve ficar preocupado ao ler o livro. Por que?

A História não tem apenas UMA face, UMA verdade, UMA versão dos fatos.
Alguns de nossos grandes escritores tiveram atitudes altamente reprováveis

O jovem Machado de Assis, antes de fazer sucesso como romancista, era crítico de literatura e teatro nos jornais. O governo de D. Pedro II o contratou para chefiar a censura às peças de teatro. Sua missão era não deixar passar conteúdos considerados obscenos ou imorais, ou críticas à Família Imperial. Mas Machado quis ir mais além e queria censurar textos que ele não considerasse de boa qualidade — queria ser um árbitro da qualidade teatral. Felizmente para os autores da época, o governo não concordou.
Por isso, postarei a resenha publicada no site da UOL pela historiadora Dida Bessana.
Em resumo próprio, digo que o livro é muito bom e recomento. Vale a leitura a título de curiosidade e cabe a cada futuro leitor, julgar os fatos expostos e até mesmo procurar ler as pesquisas indicadas pelo autor. Conhecer o maior número possível de versões e fontes sobre um mesmo fato é sem dúvida a melhor forma de chegar bem perto da verdade... se é que a "verdade" realmente existe...

Guia Politicamente Incorreto da Historia do Brasil
Desafiando as Interpretações Convencionais
Por: Dida Bessana, historiadora.

Depois de Eduardo Bueno, com "Brasil, terra a vista", "A coroa, a cruz e a espada", "Náufragos, traficantes e degredados", e de Laurentino Gomes, com "1808", mais um livro sobre a História do Brasil chegou às listas dos mais vendidos, fato que não é comum em nosso mercado editorial.

O "Guia politicamente incorreto da História do Brasil", do jornalista Leandro Narloch, ex-repórter da revista Veja e ex-editor das revistas Aventuras na História e Superinteressante, não se dedica a um único assunto nem a um período específico. Seu objetivo, como explica na Introdução, é apresentar ao público "Uma pequena coletânea de pesquisas históricas sérias, irritantes e desagradáveis, escolhidas com o objetivo de enfurecer um bom número de cidadãos"; e o faz apontando para outra perspectiva historiográfica - a que postula que não se pode pesquisar e, sobretudo, escrever a história tendo por base opiniões a priori sobre o objeto investigado, pois essa conduta apenas torce/distorce os dados para fazê-los se encaixarem em uma concepção de mundo predeterminada, com vistas tão só a corroborar a linha teórico-metodológica ao qual o pesquisador está filiado.

Narloch rejeita o maniqueísmo vítimas/algozes ou vilões/herois e seleciona como fontes trabalhos feitos nos últimos 15-20 anos, os quais fornecem novas informações sobre temas essenciais na formação e consolidação da identidade nacional. Tais trabalhos tiveram o cuidado, ou a ousadia, de considerar o sujeito histórico em seu tempo, com seus limites e contradições, respeitaram os fatos e permitiram que estes levassem às conclusões.

Para ficarmos em apenas um exemplo, o jornalista, mencionando, entre outras, as investigações do historiador Eduardo França Paiva, apoiado em vasta documentação, mostra como um número significativo de cativos ganhou a liberdade e passou a ter escravos. Bárbara Gomes de Abreu e Lima tinha sete, e diversas outras negras forras seguiram seu modelo, fazendo fortuna. Já por volta de 1830, quem se viu livre da escravidão foi José Francisco dos Santos, conhecido como Zé Alfaiate, que voltou à África e se transformou em traficante de escravos. Tempos depois casou-se com uma das filhas de Francisco Félix, o maior vendedor de gente da África atlântica. As 112 cartas escritas pelo ex-escravo entre 1844 e 1871, que tratam de seus negócios com Salvador, Rio de Janeiro, Havana, Bristol e Marselha, foram obtidas pelo etnólogo Pierre Verger diretamente de um neto do próprio Zé Alfaiate.

Longe, portanto, das concepções cristalizadas, a contracorrente é a tônica de todos os capítulos, que abordam das relações dos índios com os portugueses no Brasil Colônia ao papel dos comunistas na política nacional a partir de 1930, passando ainda pela Guerra do Paraguai, a obra do mestre barroco Aleijadinho, a questão do Acre e os primórdios do samba, entre outros assuntos.

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